segunda-feira, 26 de julho de 2010

23h56 ou Leo ésse

Chegou abrindo as portas do armário, as janelas. Libertando-me.

A luz invadiu o quarto, o colchão que mais tarde seria o nosso ninho de amor, durante dois verões e três invernos. Os meus cabelos penteados se tornaram revoltos, a bicha recalcada que era tornou-se militante, e hoje enfrenta homofóbicos.

Os poemas tão espalhados pelo chão, as fotos foram deletadas por acaso. Mas ainda estão guardadas as sensações daqueles dois anos e pouco.

O amor quando acontece não vai embora facilmente, nem quando o final do texto se anuncia.

Amor como esse permeia a existência daquele menino, que hoje, homem barba na cara se apaixona pelas bainhas das calças dos moleques libertário arianos.

Libertação pode ser um bom sinonimo para a relação daqueles dois, que começou numa noite de junho e que terminou há dois ano num show de uma cantora popular. Enquanto eles se beijavam, tocando os lábios pela ultima vez, as bichas ovacionavam a diva e tentavam invadir o palco.

Tá na memória da pele, tá registrado nas revista literárias. Amor como aquele talvez nunca mais aconteça na vida de nenhum dos dois.

domingo, 25 de julho de 2010

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ao som de Forasteiro - Thiago Pethit

Passava das nove da noite quando ele chegou, com seu cigarro e sua camisa xadrez inconfundíveis. Forasteiro, veio como uma onda em maré de março, revolvendo areia, destruindo muros, assustando pescadores, tragando-me pro fundo. Nesse mar eu não sabia mais nadar. Deixei meu corpo afundar, propositalmente. Senti o instante em que me afoguei na lembrança do seu cheiro, do seu beijo que eu não cheguei a conhecer. Desejei isso: afogar-me engolindo muito da sua água, seus fluídos se confundindo com os meus, ir morrendo aos poucos nesse amor que nunca há de existir.