sexta-feira, 24 de julho de 2009

festejar-me

estou quase embriagado
uma belga, uma brasileira devassa e uma outra de blumenau
todas dentro de mim
e eu quase fora de mim.

hoje comprei algumas cervejinhas pra me festejar.

sábado, 11 de julho de 2009

Sete mil vezes eu tornaria a viver assim


; mais que uma década, são duas. mais que duas, são quase três.

me perdi me encontrei me refiz me colori e me apresentei sem maquiagem pro mundo pra platéia dos meninos da praça. pésdescalços pisando a terra molhada do quintal, flores entre os dedos, colares pra yemanjá água de cheiro perfumando a roupa branca e os joelhos dobrados em sinal de reverência. tornei-me água pura e deixei tocar as margens sujando-me misturando-me com o barro vermelho, a cor do coração no desenho da menina.
o batom na boca, borrado de tantos encontros deixa a barba por fazer com uma cor forte, mas vermelha do que antes. a boca macia do menino que vende picolé anuncia os sabores gelados que estão no isopor. a mão da baiana do acarajé ligeira e atenta mela a faca e o bolinho da pimenta que esquenta tudo: o calor, o verão e inverno. os dias se arrastam entre um ônibus que atrasa um pouquinho e a noite que parece enorme e tão iluminada.

aprendi a não cartilha da poesia e o não escrever com outros não poetas e não escritores. e assim os anos se tornaram dias mais festivos e os encontros mais que encontros, reencontros das palavras comigo mesmo: toda uma cidade pulsante e um mar gigante que me acolhe nos dias nublados.

eis a baía o reconcavo: a minha morada e o meu chegar.
salgado mar salgado quente verão quente doce beijo doce do menino velho menino do homem novo homem que me formei nas ladeiras nas praças nas escolas e no balanço do trem.

vai lá vai e diz pra todo mundo que o dia tá raiando e a festa vai começar.

são 27 dos quais 25 com o pé afundado na beira da praia e o corpo todo molhado de tanto chover tanto criar tanto mover tanto viver.
venham comer morar co-memorar a fundação dessa nova capital que passa por aqui e pousa aí nesses olhos nesses dedos nesse corpo inteiro.

yê yá odoyá.


foto: luciany aparecida

agora

estou aqui
entre um som e outro,
entre um suspiro e outro
entre um copo e outro,
entre um abraço e outro,
entre um sorriso e outro,
entre uma janela e outra,
entre uma letra e outra,
entre um poema e outro,
entre e feche a porta
por favor.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Duas cidades. Uma que vai pro lado de lá e outra que vem pro lado de cá.

O olhar meticuloso do fotógrafo traduz essa Bahia que descobrir já na minha infância. Foi já adulto que desvendei o lado de lá. De trem de ônibus de carro a passeio a trabalho. Vi do lado de lá uma beleza que nunca me mostraram do lado de cá. Vi um povo batalhador que da maré tira o alimento de cada dia, que bem cedo, antes mesmo do galo cantar, já tá de pé. Requentando o pão "acordando o pão no fogo" preparando o café pingado dos meninos. Povo que lava roupa de ganho, que faz cocada pra vender no trem, menino que pula poça de lama, que empina pipa na laje, que surfa no trem e no fundão no buzú.
Não romantizei o lado de lá, afundei o pé na lama, descendo barranco chamando mulher pra subir com os meninos porque a lama tava descendo levando tudo. Naquele dia chorei por dentro - foda perder tudo e ainda meter mão na lama pra juntar o que restou.
Dignidade. Do lado de lá vi muita humanidade pai e mãe de seis filhos juntando sucata pra vender pro cara pagar uma mixaria e ainda sair de lá satisfeita.
Ê povo festeiro. Do lado de lá tomei muita cachaça na laje, café no copo de requeijão e sempre tive um prato de comida saborosa.
Foi no lado de lá que me assumi como educador. Na prática, no desafio do cotidiano vou me formando e amadurecendo, orgulhoso pela escolha que fiz: está com eles, está aliado a eles.
Juntando o lado de cá com o lado de lá criei uma Bahia de verdade. Colorida e diversa que faço questão de apresentar aos amigos estrangeiros de sua própria cidade. É no lado de lá que tem um povo baiano forte que não acorda de turbante nem maquiado sambando e batucando. Acorda pra pegar buzú lotado, enfrentar fila do sopão, o trem saculejando na ponte e o toque de recolher da bandidagem. É esse povo que coloca a cidade de pé, do cimento ao concreto, do piso ao telhado, levantando arranha-céu na paralela e na tancredo neves. Que faz a cidade pulsar mais humana e diferente do cartão postal.
O povo de lá, é também o daqui de perto, que tá construindo comigo novas possibilidades de mundo e humanidade. Que tá fazendo a arte e transformando a cidade. Povo meu, que também sou eu, mesmo vindo do lado de cá. No futuro, no dia de amanhã sonho ver uma única cidade. Negra, branca, gay, hetero, candoblezeira, evangélica. Não é utopia vazia, isso eu aprendi com o Mestre Paulo Freire, é utopia pé no chão convivendo, colaborando com/para a construção desse amanhã que tanto desejamos.

Amén.


foto: alex oliveira.

sábado, 4 de julho de 2009

O meu galho é na Bahia


Re-côncavo
Umbigo da baianidade nagô
cheiro de melaço de cana
barro batido, massapê
Olhá-lo é revisitar uma história
que teimo dizer minha, fazer minha.
Nasci nas montanhas
na serra das três pontas
longe do mar.
Com o pé na beira da praia
afundado na areia, renasci
criei memórias.
Daqui do recôncavo
inventaram uma bahia
de poetas heróis e prostitutas.
Como um deus cuspo no chão
amasso o barro nas mãos
e me reinvento outra pessoa
com cheiro de mar e café nos cabelos
com a batida dos tambores mineiros
e dos batuques baianos
dando ritmo ao meu andar.

(Cachoeira, jan/2009)


foto: mariele góes.

A outra banda da terra


"Uns pés
Uns mãos
Uns cabeça
Uns só coração
Uns amam
Uns andam
Uns avançam
Uns também"

Acordei totalmente VELOSO hj.

foto: mille brandão

quinta-feira, 2 de julho de 2009

vaca profana


Tem dias que a gente acorda querendo ser politicamente incorreto e querendo ouvir música classica o dia inteiro. Acordei meio sentimental hoje.