quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

memória da pele

queria escrever algo sobre o dia de hoje mas a única coisa que consigo lembrar é do abraço macio e eterno que ele me deu assim que me encontrou.

domingo, 6 de dezembro de 2009

a caminho do ser-tão

Ciranda pé no chão
Estrada a fora
Sertão a dentro
de cactos voltados aos céus
como mãos,
que esperam a água da chuva
que não chega
a 1km.
São os olhos dele
que me conduzem
sentados um ao lado do outro
enquanto o cirandeiro
aperta o cigarro da poesia.
Um pé ante o outro
a roda rodando
a poeira subindo
pela estrada
que vai dar no Ser-tão.
Ser-tão que reinvento
antes mesmo de chegar:
brilha, pulsa
ouvido-coração
palma da mão.
E ainda falta muita estrada
asfalto aperto de mão
muito prazer:
cordel ciranda e fuloresta.

19.11.09

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O chão é cama

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

Carlos Drummond de Andrade in Amor Natural

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

scrap pra alex ou meus heróis morreram de overdose (de vida)



(para ler ouvindo ritual de cazuza)

pqp acabo de deixarte um twitter morrendo-de-saudade acabei de rever o filme de cazuza. foda imaginar q pessoas que vivem a vida intensamente n sei se por força do destino se acabam mais rapidamente. será que é verdade. se for, tenho medo. se for, foda-se. prefiro viver e ter a morte como amiga, colega de amanhã. quero te ver logo logo sentir o seu abraço beibe e ri de qq bobagem. durma bem e sonhe!

"Pra que chorar,
A vida é bela e cruel despida
Tão desprevinida e exata
que um dia acaba... acaba."
(...)
Pra que buscar o paraíso,
se até o poeta fecha o livro
Sente o perfume de uma flor no lixo
e fuxica, fuxica."

vamos durmir ouvindo as palavras do poeta vivo cazuza de todo dia.

beijo-te o olho e o coração!

domingo, 1 de novembro de 2009


O teatro foi feito para isso:
Para nos tirar do cotidiano
e nos deixar dois centímetros
mais alto que o chão.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Para que não se perca

Hoje acordei pensando no menino das panelas. Chamo ele assim mas poderia chamá-lo de menino maluquinho, no melhor sentido que possa existir chamar alguem dessa forma.

Eis o menino que um dia cruzou o meu caminho à beira do mar, chamando-me para um pôr-do-sol e pra fazer a cabeça. Me fiz. O cabelo encarolado enorme como uma juba de leão, os pés soltos balançando sob o mar, os olhos perdidos na aquarela de cores apresentadas no horizonte. ó a cor verde ali e diversas cores surgiram entre os nossos olhares. O sol se pôs, o papo iniciou e tardou a findar.

Um abraço apertado e um beijo no rosto ontem à noite, fizeram ressurgir a energia daquele pôr-do-sol e a vontade de escrevê-lo aqui. Escrever para mim, em diversos momentos, é reviver momentos e perpetuá-los na minha existência. Escrevo sobre esse menino pra nunca mais perdê-lo de vista (da sua, da minha) Pelos seus olhos e pelo seu sorriso meio embriagado quero perder-me, fazendo a cabeça e um pôr-de-sol esverdeado.

sábado, 17 de outubro de 2009

Esse não é um conto pra ser escrito nem lido num sábado a tarde. Mas as memórias deste menino vem com tanta força ao meu corpo ao meu espirito que os dedos ansiosos teclam sem parar.

Quando nos conhecemos, eu ainda era adolescente e ele um pouco mais velho, 20 e poucos anos já de barba na cara. O que mais me atraía nele era a barba escura, bem preta, meio descuidada, sempre por fazer; vezenquando ficava horas admirando aquela barba e tendo pensamentos como esses que me povoam as 12h45 de um sábado iluminado. o que mais desejava era roçar meu rosto ainda sem pelos naquele rosto barbudo e fazer com que ele passasse em revista todo o meu corpo com seus grossos fios que juntos eram um tanto quanto macios. Quando ele durmia aqui em casa, eu aproveitava seu sono pesado e passava minha mão em sua barba perdendo horas num movimento como se afagasse um gato. Certa noite acordei com ele me chamando, falava bem baixinho encostanto sua boca no meu ouvido, chamando meu nome de uma forma bem carinhosa. Ao abrir os olhos encontrei os seus bem de frente dos meus e num impulso puxei o lençol cobrindo todo meu rosto. Devagarzinho ele puxou o lençol, pegou minha mão e levou até o o seu rosto e apertando de leve minha mão solicitou um afago. Esse foi nossa primeira intimidade...


domingo, 23 de agosto de 2009

Com seu povo ou a lembrança de seu povo

Para margô

praquele menino de prédio tímido e sem amigos viver se tornou uma grande descoberta desde quando uma flor pisou seu pé numa rua de um bairro de uma cidade qualquer.
foto: luciany aparecida

sexta-feira, 24 de julho de 2009

festejar-me

estou quase embriagado
uma belga, uma brasileira devassa e uma outra de blumenau
todas dentro de mim
e eu quase fora de mim.

hoje comprei algumas cervejinhas pra me festejar.

sábado, 11 de julho de 2009

Sete mil vezes eu tornaria a viver assim


; mais que uma década, são duas. mais que duas, são quase três.

me perdi me encontrei me refiz me colori e me apresentei sem maquiagem pro mundo pra platéia dos meninos da praça. pésdescalços pisando a terra molhada do quintal, flores entre os dedos, colares pra yemanjá água de cheiro perfumando a roupa branca e os joelhos dobrados em sinal de reverência. tornei-me água pura e deixei tocar as margens sujando-me misturando-me com o barro vermelho, a cor do coração no desenho da menina.
o batom na boca, borrado de tantos encontros deixa a barba por fazer com uma cor forte, mas vermelha do que antes. a boca macia do menino que vende picolé anuncia os sabores gelados que estão no isopor. a mão da baiana do acarajé ligeira e atenta mela a faca e o bolinho da pimenta que esquenta tudo: o calor, o verão e inverno. os dias se arrastam entre um ônibus que atrasa um pouquinho e a noite que parece enorme e tão iluminada.

aprendi a não cartilha da poesia e o não escrever com outros não poetas e não escritores. e assim os anos se tornaram dias mais festivos e os encontros mais que encontros, reencontros das palavras comigo mesmo: toda uma cidade pulsante e um mar gigante que me acolhe nos dias nublados.

eis a baía o reconcavo: a minha morada e o meu chegar.
salgado mar salgado quente verão quente doce beijo doce do menino velho menino do homem novo homem que me formei nas ladeiras nas praças nas escolas e no balanço do trem.

vai lá vai e diz pra todo mundo que o dia tá raiando e a festa vai começar.

são 27 dos quais 25 com o pé afundado na beira da praia e o corpo todo molhado de tanto chover tanto criar tanto mover tanto viver.
venham comer morar co-memorar a fundação dessa nova capital que passa por aqui e pousa aí nesses olhos nesses dedos nesse corpo inteiro.

yê yá odoyá.


foto: luciany aparecida

agora

estou aqui
entre um som e outro,
entre um suspiro e outro
entre um copo e outro,
entre um abraço e outro,
entre um sorriso e outro,
entre uma janela e outra,
entre uma letra e outra,
entre um poema e outro,
entre e feche a porta
por favor.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Duas cidades. Uma que vai pro lado de lá e outra que vem pro lado de cá.

O olhar meticuloso do fotógrafo traduz essa Bahia que descobrir já na minha infância. Foi já adulto que desvendei o lado de lá. De trem de ônibus de carro a passeio a trabalho. Vi do lado de lá uma beleza que nunca me mostraram do lado de cá. Vi um povo batalhador que da maré tira o alimento de cada dia, que bem cedo, antes mesmo do galo cantar, já tá de pé. Requentando o pão "acordando o pão no fogo" preparando o café pingado dos meninos. Povo que lava roupa de ganho, que faz cocada pra vender no trem, menino que pula poça de lama, que empina pipa na laje, que surfa no trem e no fundão no buzú.
Não romantizei o lado de lá, afundei o pé na lama, descendo barranco chamando mulher pra subir com os meninos porque a lama tava descendo levando tudo. Naquele dia chorei por dentro - foda perder tudo e ainda meter mão na lama pra juntar o que restou.
Dignidade. Do lado de lá vi muita humanidade pai e mãe de seis filhos juntando sucata pra vender pro cara pagar uma mixaria e ainda sair de lá satisfeita.
Ê povo festeiro. Do lado de lá tomei muita cachaça na laje, café no copo de requeijão e sempre tive um prato de comida saborosa.
Foi no lado de lá que me assumi como educador. Na prática, no desafio do cotidiano vou me formando e amadurecendo, orgulhoso pela escolha que fiz: está com eles, está aliado a eles.
Juntando o lado de cá com o lado de lá criei uma Bahia de verdade. Colorida e diversa que faço questão de apresentar aos amigos estrangeiros de sua própria cidade. É no lado de lá que tem um povo baiano forte que não acorda de turbante nem maquiado sambando e batucando. Acorda pra pegar buzú lotado, enfrentar fila do sopão, o trem saculejando na ponte e o toque de recolher da bandidagem. É esse povo que coloca a cidade de pé, do cimento ao concreto, do piso ao telhado, levantando arranha-céu na paralela e na tancredo neves. Que faz a cidade pulsar mais humana e diferente do cartão postal.
O povo de lá, é também o daqui de perto, que tá construindo comigo novas possibilidades de mundo e humanidade. Que tá fazendo a arte e transformando a cidade. Povo meu, que também sou eu, mesmo vindo do lado de cá. No futuro, no dia de amanhã sonho ver uma única cidade. Negra, branca, gay, hetero, candoblezeira, evangélica. Não é utopia vazia, isso eu aprendi com o Mestre Paulo Freire, é utopia pé no chão convivendo, colaborando com/para a construção desse amanhã que tanto desejamos.

Amén.


foto: alex oliveira.

sábado, 4 de julho de 2009

O meu galho é na Bahia


Re-côncavo
Umbigo da baianidade nagô
cheiro de melaço de cana
barro batido, massapê
Olhá-lo é revisitar uma história
que teimo dizer minha, fazer minha.
Nasci nas montanhas
na serra das três pontas
longe do mar.
Com o pé na beira da praia
afundado na areia, renasci
criei memórias.
Daqui do recôncavo
inventaram uma bahia
de poetas heróis e prostitutas.
Como um deus cuspo no chão
amasso o barro nas mãos
e me reinvento outra pessoa
com cheiro de mar e café nos cabelos
com a batida dos tambores mineiros
e dos batuques baianos
dando ritmo ao meu andar.

(Cachoeira, jan/2009)


foto: mariele góes.

A outra banda da terra


"Uns pés
Uns mãos
Uns cabeça
Uns só coração
Uns amam
Uns andam
Uns avançam
Uns também"

Acordei totalmente VELOSO hj.

foto: mille brandão

quinta-feira, 2 de julho de 2009

vaca profana


Tem dias que a gente acorda querendo ser politicamente incorreto e querendo ouvir música classica o dia inteiro. Acordei meio sentimental hoje.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

esSE é o Zé

armazé
amazé
mazé
azé

é
armazem
era pra ser arma-zen
mas eu deixei de ser zen e passei a ser zé.

Ás vezes qdo abrimos/saimos dos nossos armários deixamos de ser Zens para sermos Zés.



poesia coletiva via msn.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

1130

silêncio. do lado de cá e do lado de lá. janelas fechadas aqui e lá fora a chuva vem mansinha fazendo a noite parar. e voltar a se mover até o limite da madrugada. acelerado, o ônibus passa pelas poças de água deixando a calçada encharcada. dentro do ônibus, um homem barbudo cantarola canções antigas, lê um livro: a odisséia em versos. ele não sabe de mim: o observo de longe. desejo-lhe. quero tocar-lhe a barba, sentir o cheiro do cangote, tocar-lhe os lábios. cantar os meus versos ao pé do seu ouvido.ele não sabe de mim obsceno: querendo roçar a minha barba na sua, deixando que ele me beije até o ponto final.
gôzo, chuva, sapatos molhados e corpos suados.

domingo, 14 de junho de 2009

Tomar, tornar-se poesia.

Quando o segundo sol chegar os dias serão mais iluminados, mais cheios de horas, mais colorido, vivo. Teremos por-do-sol duplo. Um de cada lado da cidade. E todo o dia vai lentamente ficando escurinho e a noite única será rainha.

O dia hoje foi totalmente azul com passarinhos cantando lá fora e aqui dentro de mim. Há muito não descansava a alma e o corpo e sonhava bons sonhos e acordava leve pensando no amanhã. Findado a escritura do trabalho final, findado o primeiro semestre agora só os braços leve de morfeu acompanhado de pequenas doses de licor.

Agora quero a leveza da bossa nova do vinicius o café quente da amiga do prédio ao lado o samba rasgando a madrugada. Quero a poesia torta dos dias iluminados do ser-tão. É tempo de São João menino arruma a fogueira e anuncia o que virá por aí.

Aqui dentro ainda é dia. Apenas raiando o dia. Mas o relógio teima em dizer que faltam 15 para seis da tarde. Vamos reverter as horas ao nosso favor e criar mais sóis para que os nossos dias sejam maiores. Vida vida pulsando aqui dentro e fora.

Tornando-se o já.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Tensão de Conclusão de Curso

Já não sei o que escrever por aqui nem sei aonde encontrar inspiração. Respira. Olha por cima e não há nada. Falta pouco pro fim. Tensão de conclusão de curso é assim. Não há tempo para o gozo nem para o trago, só calos nos dedos e nós no juízo. O dia acinzentou aqui dentro e lá fora. Bombas de são joão e café forte. Força na peruca e muita surtação.

domingo, 3 de maio de 2009

Já era


Na pós-modernidade é assim: as memórias do passado se perdem quando formatamos o pc e esquecemos de fazer um back-up.

sábado, 25 de abril de 2009

Domingos (Sábados) de conversa


"(...) o mundo não será feliz enquanto todos os homens não forem artistas. A vocação do homem é criar."
Domingos de Oliveira

Dêem uma olhada:
http://domingosinprocess.blogspot.com/2008/10/carta-um-jovem-ator-na-ntegra.html

Tenho dito


Não leio livros de grandes escritores pra impressionar meus amigos. Leio unicamente pra me impressionar diante do desvelamento do óbvio, do deslumbramento com o cotidiano.

"Por esse pão pra comer,
por esse chão pra dormir.
A certidão pra nascer,
e a concessão pra sorrir.
Por me deixar respirar,
por me deixar existir."


É essa fome que me faz acordar pro dia tumultuado de encontros e desencontros, filas e guichês vazios, de ônibus lotados de trabalhadores responsáveis pelo rodar do mundo, de sorrisos entristecidos e botocados. É essa fome que me faz acordar antes do galo pra encarar uma turma cheia de alunos, horas dentro de ônibus que vão apressados pelas avenidas pulando quebra-molas invadindo sinais. É essa fome que me faz passar horas estudando diante de um computador que ameaça parar a qualquer instante, que me faz refletir o sentido de tudo isso aqui, que me faz discutir novas possibilidades de mundo. É essa fome que me leva até a cozinha preparar o alimento de cada dia, esquentar os pães, repartir o verbo, requentar o café.

é essa fome que me dói o estômago, que me faz mais homem e mais humano.

domingo, 19 de abril de 2009

menino do elevador,


é por causa dessa intimidade de cheiros e dessa cumplicidade de idéias que temos hoje, que eu ansiava, naquele tempo, te encontrar no elevador sorrindo comentários sobre a arte que mais amamos: o teatro.

Quando a canção do poeta fala do nosso dia-a-dia ou Zii & Zie


Ilhado.
 Textos pré textos canções poemas urbanos imagens de horror permeiam essa minha existência soteropolitana

Desde quinta a cena retorna como uma onda à minha retina: os olhos dele cheio de lágrimas fixo no homem alto negro magro de colete marrom do conselho tutelar. O tal homem, representante do estado, tava ali para buscá-lo. O seu irmão mais novo tinha sido levado mais cedo e não tinha derramado uma lágrima sequer. A partir daquele momento o estado assumia a guarda daqueles dois menores enquanto eu passava a me sentir um educador frustrado. Foi mal, papai Anoiteceu. Não consegui me despedir dele, fiquei muito triste vendo a cena e envergonhado me tranquei na sala de aula, chorando solitário e derrotado. Voltei pra casa, pedindo aos deuses proteção àqueles meninos, cantando, chorando, me despedindo deles mentalmente. Tchau, mamãe Valeu.

Pariu, cuspiu/Expeliu/Um Deus, um bicho/Um homem
 
Escutar o novo cd de Caetano, entre uma leitura e outra para a monografia, me fez refletir sobre a minha escolha profissional. A primeira música de título Perdeu, com sua guitarra marcada e canto-protesto, veio em cheio à memória da minha pele e ressoou trilhando a história desses meninos que encontrarei daqui pra frente. 

Ser educador da periferia é uma escolha dolorida, por ter que ver pelas entranhas, pelo lado de dentro como as coisas acontecem. Ver uma realidade  perversa e sem futuro, sem amanhã. 

O sol se pôs / Opôs, nasceu/ E nada aconteceu

Ser
educador na periferia é uma escolha ESPERANÇOSA. Estar ao lado dos oprimidos é acreditar que juntos podemos mudar o rumo dessa história que já vem pré-editada, pré-meditada. É ter fé no homem. 

Havemos de amanhecer, preveu o poeta Drummond

Ser
educador é  perceber em meio à madrugada os primeiros raios de sol. E é na luta diária na cidade sotero-cosmo-metropolitana que se constrói o futuro. Com a mão na massa levantando a laje, com o pé no chão de barro, com a caneta em punho tcceando idéias, sentado em roda dialogando com os adolescentes e com os pais dos adolescentes, derrubando os muros das universidades e aproximando-se da realidade-comunidade. Assim, ficaremos grávidos e comporemos nossas próprias canções, nossos próprios textos, faremos nossas próprias leituras de mundo criticizando-o e se percebendo nele e parte dele. 

Cresceu, vingou/ Permaneceu, aprendeu/ Nas bordas da favela

Ilhado entre textos, canções, artigos e dissertações passei o fim de semana. Deles, tenho feito barquinhos e aviões de papel e partido pra outros mundos possivéis construídos a partir da margem e vindo das favelas.




sábado, 18 de abril de 2009

entre um livro uma música entre umas e outras

a
chuva chuvou a roupa molhou a pele enrugou encausulou escureceu às cinco coração amolecido lágrima fugitiva pé de menino e menina na chuva tardinha que já vai noitinha sábado de jazz e jaz em casa enrolado no edredom caê cantarolando caio narrando dedos nervosos no teclado e os pingos que batem contra a janela da sala. 
o novo cd o novo livro o novo dia que virá depois da chuva quando as cigarras se calarem e as galinhas correrem sob o sol escaldante. 
ele cantará e repetirá o verso maldito das suas transcanções e ela desfilará nua pelas ruas da avenida sete sua transexualidade da cor da cidade viva que brota do esgoto lançado na boca do rio. ele e ela reinventarão o terceiro sexo que a pós modernidade dissolverá com uma nova teoria, juntos criarão uma nova língua suburbana extinguindo as mesóclises e os pronomes possessivos e de cima dos seus trios e palanques traduzirão a essa nova onda (que onda!) e conclamarão revoluções de dentro para fora - gozo democrático. 
rotações translações transmutações do lp do novissimo baiano aos sessenta e tanto jeans all star e gírias do morro  cigarro no dedo verbo solto cachaça no copo santo amaro cachoeira maragogipe.
o homem reinventado a mulher tesuda transando uma embaixo do chuveiro enquanto lá fora a cidade inunda e os morros desabam. o sexo o poema a palavra a língua colocando denotando detonando o dia de manhã que raiou as 04h59 de ontem. 
zii e zie do sinal fechado do vidro fechado das ong do morro da periferia do conselho tutelar dos meninos soltos pelas ruas. morangos mofados tudo mofado e essa chuva que não pára essa merda que não cheira esse gozo que não vem esse grito abafado perdeu perdeu perdeu maluco e a canção foi feita deixando o educador frustrado nessa noite de sábado que veio as cinco e vai até bem mais tarde entre um café e outro.
Tchau, mamãe 
Valeu

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Viver intensamente é viver a beira de penhascos.


Fato constatado 
outro dia em que fui de zero à mil e vice-versa

em menos de trinta minutos 

numa overdose de emoções opostas. 



sábado, 4 de abril de 2009

"Menina amanhã de manhã" ou Dias de alguma poesia


"Na hora ninguém escapa
Debaixo da cama, ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens 
Vai desabar sobre os homens
Vai desabar sobre os homens"


é assim.

Licença poética para falar: estou com saudade.



O sol deu uma trégua à Cidade da Baía ia ia. O céu amanheceu cinza escuro quase desabando em nossas cabeças. Pé na rua e uma pá de lembranças tomaram minha cabeça. Dias cinzas, são dias essencialmente introspectivos. Dentro de mim irradiou-se alegria. Trazendo consigo a lembrança daquela que foi o primeiro amor adolescente do poeta récem descoberto Margô: flor que desabrochou no canteiro do edifício velho do subúrbio da cidade. Veio intensa como tudo que é bom e não se esvaiu com o tempo. Amadureceu com o girar da ampulheta e do fogo nasceu o amor. Amor de raízes fortes pé de cajá sertão recôncavo familiar. 
Sem o calor, a cidade acordou sem pressa. A chuva fininha na janela e no corpo rememorando os dias de santa inês, sopa de letra e poesia, dos pés que encontravam-se embaraçados nas calçadas cabulescas, do frio do charco licor saboroso carne na panela, do forró arrochado na praça irajuba. Veio tudo, inundando a alma e emociando o poeta. 

De repente do cinza fez-se o colorido 
e da paixão adolescente,
o amor maduro.

De repente do peso da cidade
fez-se a poesia do cotidiano
e das palavras truncadas,
o instante mais insano.

De repente da vida que era monótona
fez-se um samba enredo
e da flor que desabrocha,
perfumou-se o mundo inteiro.

"De repente do riso fez-se o pranto"
e da saudade que era muita, 
o mais bonito canto.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Não há título para o que é intitulável


Para você

Enquanto ele falava, me contando suas histórias de sertão e mar, me lembrei do Caio. Se fechasse os olhos iria confundir sua voz com a dele. Tal qual o Caio, suas histórias falavam de um cotidiano menino que veio do interior e descobriu a cidade intensa, diversa e colorida como as suas roupas e as pulseiras 'de hippie' que tanto gostava de fazer.
Encontros. No dia que desembarcou na cidade da Bahia seus olhos ganharam o mundo, a cidade pareceu enorme e tudo não coube num suspiro só. Respirou outra vez e a metrópole invadiu o seu corpo tomando toda a sua extensão - dentro e fora. Na primeira vez que nos vimos, reparou na cor da minha barba e na minha fisionomia. As conversas eram pausadas por silêncios-tentativas de colocar vírgulas nos lugares certos e não mostrar-se inteiro.
Intensidade. Dessa última vez, reparou na cor dos meus olhos - o azul dos meus olhos pareciam mais azúis - e minha face enrubesceu fazendo charminho. O seu falar intenso exclamativo 'gritos de vamos pra vida' convocava mudanças no nosso cotidiano de cada dia. Verborragia. Cheia de contéudo e vida, o verbo derramado pelas calçadas por onde passávamos iluminando a cidade de novos ideais.
Wally Caio Renato Cazuza Drummond Rorô Caetano Clarice Buarque Cartola Hendrix Vinícius Elis Guevaras e Rauls. O verbo se fazia carne no instante que o sinal fechava e inundava de fé e esperança o asfalto negro. Inundava a minha memória da pele trazendo à tona tudo que referencia a minha existência enquanto homem gay urbano brasileiro universal. A cabeça tomba no travesseiro e se agita ao som das suas palavras que ecoam dentro de mim.Venha sempre, esteja sempre. Intenso, verdadeiro e belo como sua cicatriz no canto da boca e sua barba por fazer.

All-ways


Um pé na frente
Outro atrás
O direito sempre
Na frente do esquerdo
3.600 passos até o ponto de ônibus
30 min até o trabalho
21600s de trabalho
2h de descanso
1431 o número do ônibus
2,20 o preço da passagem
60 páginas para o TCC
As mesmas pessoas os mesmo alunos as mesmas confusões a mesma aula os mesmos questionamentos o mesmo olhar insistente no relógio - essa hora que não passa!
Nada de extra-ordinário nisso tudo.
Pelo contrário.

Fonte de estudo para alguns filósofos, o cotidiano tem enlouquecido e desumanizado os homens. Os ônibus lotados, os engarrafamentos, as filas enormes têm tolhido a criatividade dos homens, que feitos tal qual máquinas, reproduzem, repetem discursos. E se sentem mcdonaldismente felizes, shopping center felicidade. 
"A cidade não pára, a cidade só cresce, o de cima sobe e o debaixo desce" gritou o poeta mangue-beat. O concreto invade a avenida que há dez anos era verde. As lagoas têm secado, o parque florestal é um campo de golfe, a praia local de despejo de esgoto, meninos e meninas sendo assassinados em portas de escola. 
Em algum lugar dessa cidade alguem ouviu e compartilhou dessa indignação mas o apito da fábrica anunciou - os galos não cantam mais, são eletrônicos celulares - outro dia de trabalho ônibus cheio de roupa amassada de filas de banco do leite do sabão de relógios de ponto de 3.600 passos até o ponto de ônibus de 30 min até o trabalho de 21600s de trabalho de 2h de descanso de 1431 o número do ônibus de 2,20 o preço da passagem de 60 páginas para o TCC.

- Pensar?
- Agora não posso, estou atrasado.

"E prá ter outro mundo
É preci-necessário
Viver!"
E subverter a ordem pondo a rotina de cabeça pra baixo, para ver o céu aos nossos pés.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ao nosso dom de ir e vir














"(...)
E se me virem sambando
Até de madrugada
E você for até lá...

É que eu sambo direitinho
Assim bem miudinho
Cê não sabe acompanhar
Vou arrancar tua blusa
E por no meu cabide
Só prá pendurar
Quero ver
Se você tem atitude
Se vai encarar..."


Era de madrugada o samba já havia acabado, as cadeiras empilhadas e o chão varrido. Ele foi chegando, daquele jeito que era só seu: cigarro na boca, boina e óculos vuarnet. Veio devargazinho, cheio de malandragem e ocupou todo o salão novamente. Tinha partido numa tarde de verão, desligado o celular, encontrado outros horizontes. -Pra nunca mais! tinha prometido ao meu santo Jorge.
Cheio de marra, trouxe à tona as memórias mais antigas, do cheiro, do olhar, do gosto. Eu sorrir, gargalhei e me senti mais jovem! Abri o salão novamente para toda aquela juventude, coloquei a roupa mais bonita e me perfumei de alfazema.
Dei-lhe um banho e dançamos nús pela sala-cozinha-quarto reavivando a cuíca, o tamborim e o pandeiro. O samba tocou alto até o céu alaranjar novamente lá no horizonte e os corpos cairem no chão exaustos. Ainda pude ouvir o portão batendo lá fora no instante que o galo anunciou o novo dia. Foi embora sem dar até logo ou dar um cheiro no cangote.

-Você é o mistério que me tira do sério, que me faz amar, cantarolou no rádio a voz feminina.

Sorri aliviado um sentimento beira-mar de que as ondas vão e voltam mais intensas e mais repletas de qualquer coisa que faz muito bem.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Corpocasa-cidadecinza-lembrançadoída




Àqueles que frequentam minha casa-corpo
Ao seu mais novo visitante, Diogo


Na manhã seguinte a sua partida não fez sol.
A cidade tingiu-se de cinza.
Engarrafou-se o trânsito, nenhum passo a diante.

Dentro do poeta a cidade chuvosa.

Havia o silêncio
(apenas interrompido pelas buzinas dos carros que tinham pressa de chegar ao seus destinos)

Havia a falta
do corpo juntocolado, esquentado do frio
da troca de carinhos

Sempre quando partiam na manhã seguinte,
o poeta se doía
doía bem lá dentro,
apertando o coração.

Essas eram as piores horas.
Quando acordava e
percebia que eles já não estavam mais.

Havia apenas toalhas molhadas,
latas de cerveja e garrafas de vinho
no canto da cozinha
E o perfume deles que permanecia no ar,
nos travesseiros,
nos lençóis
que embriagava as lembranças
e conduzia o poeta de novo ao sono.

Naquela manhã
a casa-corpo-casa do poeta
estava em suspensão
tentando desligar-se de todos, de tudo
mantendo-se por apenas um fio.

Mas a cidade cinza convocava-o
ao trabalho, ao cotidiano
E ele deixava-se ir.
Conduzido.
Saudoso daqueles que partem
levando-deixando uma parte de si
de nós.

Naquela manhã
o poeta fez desabrochar dentro de si
(no seu jardim mais secreto)
mais uma flor.
Linda, perfumada
Flor de MacaúbaSãopaulo
Flor Universal.

(01/12/08)

Os livros e Ela















"Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um."

Caetano Veloso in Livros



Lembrar dos livros é ter a cabeça nessa pessoa que surgiu em minha vida, a qual tenho devotados bilhetes. Para ela dedico esse post.

Ali onde se lê Juliana leia-se Juliena.
Como me disse, timidamente, não é Juliana é Juliena: uma mistura de Julia e Julieta. Peço desculpas se me atrapalhei na escrita. Eu conheço duas Júlias muito sapecas, inteligentes e desbravadoras do mundo e conheço também uma Julieta, nascida da cabeça de Shakespeare, amante e impulsiva, ela foi até as ultimas por um belo amor.
Ariana e amante dos livros, você, minha flor, vem transformando as minhas manhãs em convites à leitura. Passei a manhã lendo e lembrando de ti. Quando começo a ler um livro, me deixo envolver e embarco. Não sei se como você mas deixo o mundo lá fora e fico aqui descobrindo esse novo mundo. Estou lendo O caçador de pipas, vc conhece a história? A capa me fascinou e assim me deixei levar na leitura e assim vou indo... Nessas férias me dediquei a leitura de muitos livros e você qual seu livro de cabeceira?

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Olhos de maresia




Não, não se trata da história daquela menina do suburbio do Rio e nem daquele senhor casmurro. Falo de um homem. O homem que tem os olhos de maresia.
Quando apareceu pela primeira vez, foi numa noite lá no porto. Eu ia jogar minhas poesias ao mar e ele chegava naquele grande navio estrangeiro. Mas tarde vim descobrir que, na verdade, ele era um estivador e que morava lá onde a pedra é redonda e o sol se põe de mansinho. 
Quando meus olhos pousaram nos seus, lembrei dos daquela menina do livro. Era daquele jeito que eu os imaginava. Isso me deixou encantado. Seu sorriso era lindo e seu hálito era de hortelã. Como um marinheiro que não resiste ao canto das sereias, me atirei nessa paixão-mar. Desconhecendo dos perigos daquele mar para a minha canoa-vida.
Noites dias madrugadas maresia ressaca vivi a intensidade das ondas de março. 
Fui encontrado, ontem, lá onde a pedra ronca. Tinha o corpo nú coberto de poesias de despedidas, canções de além-mar. A boca pintada de um vermelho intenso e um buraco bem no lugar do coração.

Bilhete para Juliana

(bilhete encontrado dentro daquele livro que cheira saudade)

Ju,

Ver o mundo a partir dos seus olhos é reparar o que há de vida em cada milimetro Que há vida no grão de areia da praia de areias brancas, indo e vindo ao sabor dos ventos e das marés. Que no silêncio da madrugada a vida pulsa humanizando todos os amantes e vagabundos que perambulam pelas ruas desertas. Quero ler-te mais, emaranhar-me nas suas linhas e singrar os mares que existem nesse sertão de onde você veio.
Um dia, uma flor apareceu nesse meu secreto jardim. As flores existem desde sempre nos jardins, mesmo antes de se mostrarem belas e cheirosas, assim como dentro de cada semente existe uma árvore. Acho, querida menina, que uma bela flor está brotando por aqui. Flor de cactús, que vem do sertão trazendo chuva e mais vida pra esse quintal. Já sinto de longe o cheiro da chuva na terra molhada e o cheiro dessa flor literária que rompe o asfalto.

"Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
" Drummond

Furando o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. E transformando toda nossa rotina.

Dorme bem, Juliana. E não tenha medo de terminar os livros que começou a ler. Eles habitam dentro de ti desde que seus olhos passaram pelas primeiras linhas da primeira folha.
Ah! Deixa eu te contar um segredo: eu também gosto de sentir o cheiro dos livros novos. aí fico nas livrarias passando o dedo para sentir a textura da capa, folheando-os bem pertinho do rosto para sentir o ventinho feito e o cheiro das palavras e daquele mundo novo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009





"Não mais preciso do que queria, envelheci"


do zine de rodrigo m. leite.
do piauí para o mundo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Pós-Janaínos

Enquanto os pingos da chuva pipocam no telhado
e os corpos quentes vermelhos do sol
se esquentam na cama estreita
o café, que perfuma a casa,
anuncia o alvorecer.

Lá longe o galo canta
o seu moço me sorrir um bom dia
e a rua molhada pisa o pé sujo de areia.

A cidade azul
amarelada de sol
ilumina a cama,
o barco e o sexo
do homem na praia.

As gavetas se fecham
O relógio badala
E a Ave Maria no rádio
tece linhas rosas,
laranjas, verdes
no encontro do céu com o mar.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Autobiografia

"Nasci nas montanhas,
na serra das Três Pontas,
longe do mar.
Mas foi com o pé na beira da praia,
afundado na areia,
que me fiz homem,
criei memórias e
todo o meu imaginário."