segunda-feira, 26 de abril de 2010

Prece n.0

A prece(ado) come c(r)ú.

Prece n.365

Os sonhos durante o vôo vieram como alucinações. Se eu fosse astronauta talvez não durmisse uma só noite. Mas como saber se é dia ou se é noite sem ter os pés no chão?

Prece n.4 ou esse chopp que me transtorna transborda

Memória. Escrevo-me em silêncio no saguão do aeroportocéu desta que podia ser a citycitá maravilhosa mas não é. Seca, fria a noite. O cinza contrastando com os jardins laranjamarelos de sua esplanada. Silêncio. A caneta corre o papel. Quedê o romance, a orgia? Nada apenas o desejo e o chopp quente. Vai. Corre. Não perde o avião. Ele não tá aqui! Ele nem lembra mais o seu nome. Ipodfone memória molhando o papel. Arrepio. Nostalgia. Poetas nasceram para serem, para estarem sempre solitários em saguões cinzas de aeroportos. Dez milhões de vezes viveria isso novamente. Antes ficar fodido do que não ter vivido as noites, os encontros. Cruz encruzilhada fundante. Parto daqui para o meu nordeste sem o beijo que ele nuncamedeste. Pára. Pire. Foda. Finda.

Prece n.3

Foi com o ouvido na Baía que caminhei até a praça do relógio da satélite city. Lua. Cadê a luz própria? A city está ofuscada pelos holofotes dos meio século de pólis politicum politicagem. Polis brasileira nata erguida num descampado concreto sem cor. Onde ele foi parar na noite de sexta? Fiz cada um dos seus roteiros e nada. Provavelmente sentado fazendo fumaça numa agência de notícias do conic cone quadrado quadra super 712/912 sul frio que invade a casa enrolando o corpo no lençol. corpo frio gaivotas cigarros e nada dele em mim. Já fui, queria ter dito ontem. Disse ao léo não ao Téo. Me despedi silenciosamente da cidade estado brasiliana. Novas Brasílias em Salvador Velhas Brasílias dentro de mim pulsarão para sempre. Foto sensação memória. Voa volta casa casulo mochila concha. VOA VOE EVOA EVOÉ!

domingo, 25 de abril de 2010

Prece n.2 ou o menino, a máquina e a cidade brasiliana ou alucinações durante os 15 minutos finais.

E qto tempo falta para que o grito venha e assuste o povo pacato?

Pocotó cavalo arisco policial violento arma em punho, a ordem do dia: matar o verbo em nome da verba.

- Teje preso, esbravejou eloqüente

Mas a sala tava em silêncio e o menino piou:

- Vai ser guache carlinhosjuquinhaxandinho.

A festa dos 50 ainda não acabou, o dj ainda toca a valsa antiga que cheira a naftalina.

Tudo dominado o Rio a Baía e o Paulo cadê? Tá atrasado. A bolsa quebrou levou junto Bombaim e aquele deserto vermelho.

Por aqui é só concreto, gritou Oscar para o velho candangueiro que trocava a bandeira anunciando a alvorada no morro do conselho.

Aí o menino chegou com a máquina digital captou o instante e emoldurou com madeira de lei vinda da amazônia.

Rabiscos no caderno às 18:15

Tá tudo certo é a nova ordem ordinária que samba no terreiro mole pensamento solto livre sorridente Extraordinário o choro do moleque que não mamou logo cedo porque o sol não veio Saiu pra dançar na constelação e faltou o gás pra esquentar o café e o pão Aí ele chegou meio bêbado nublado e ninguém saiu para trabalhar ficou em casa na orgia dos pensamentos noturnos eternos porque não havia mais dia naquele dia que o certo deu a ordem e o erro saiu por aí errante poeta delirante.

Brasília, 25/04/10

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Téo e a gaivota

Há muito tempo que o mar não chega por essas bandas, nem os pássaros voam por esse céu. A cidade é cinza. Poesia concretista de um centenário arquiteto. Prédios suspensos, avenidas largas, eixões. Flor que rompe o asfalto. Flor cravada no cerrado.
Ele entrou no ônibus sem pressa, quase se confundindo com os outros passageiros - talvez mais um entre muitos milhões de passageiros dos ônibus que cruzam a cidade monumental. Téo, o seu nome, nos apresentamos entre um ponto e outro, entre uma informação e outra, entre uma sugestão e outra. - Vá lá no Conic, você vai gostar, ele disse. E eu fui, pra tomar uma cerveja gelada no centrão da cidade pulsante capital do país.

Corpo morgado, cabeça feita.

E logo na saída os olhos se encontraram novamente. Téo, camisa xadrez, cigarro na mão, fazendo fumaça na escapadinha que deu do trabalho. Eu queria dizer das gaivotas, das ondas dos mares que chegam lá na Baía. Das areias onde afundo meus pés. Ele queria falar dos espaços, das esquinas, das quadras. Eu queria convidá-lo pra um chopp. Ele queria que eu decorasse os números das ruas, os nomes dos bares de cerveja barata e farta. Entre um cigarro e outro, muitos quereres e um a gente se encontra por aí como despedida. Como se fosse fácil pra mim, homem estrangeiro, no meio daquela multidão achá-lo barbudo e livre novamente.

"Todos os encontros, todos os poemas, manda me avisar, manda me avisar"










Havia muito tempo que o mar não chegava por essas bandas, nem os pássaros voavam por esse céu.



segunda-feira, 5 de abril de 2010

queria escrever páginas e mais páginas sobre ontem mas a unica coisa que me lembro é do tempo, do sorriso e dos dedos dele emaranhados no meu cabelo enorme.