terça-feira, 14 de junho de 2011

Vim só dar despedida

ao som de despedida (Marcelo Camelo)

Acredito que ao falarmos sobre coisas que têm nos magoado e entristecido, ajuda a nos libertarmos delas e ficarmos bem mais leves.

Há mais de um mês vem e vai a vontade de escrever sobre meu pai, que partiu cansado dessa longa jornada chamada vida. Partiu e ficou a casca ali no sofá cama, que era nosso ponto de encontro e de discussão dos mais variados temas. Nós gostávamos de conversar sobre tudo até sobre coisas das quais discordavamos da opnião um do outro. Ele me ensinou a discordar, questionar; eu tentei ensinar a ele que era importante dialogar.

E ficou isso: o diálogo. E mesmo que demorasse pra acontecer, era um encontro incrível e aprendiamos um sobre o outro. Engana-se quem diz que ele não sabia nada de mim. Sabia demais. Do seu jeito, acolhia as minhas pequenas revoluções já na adolescência, abraçava meus projetos com o teatro, ria comigo e chorava junto, na subida da ladeira, na formatura e nas muitas alegrias.

Quando me olho no espelho, o vejo refletido ali. Se sou como hoje sou, devo a ele. À sua irreverência, à sua forma livre de ver o mundo, às suas lutas contra o cotidiano opressor, às nossas conversas no bar, na praia, na fogueira e sofá.

E sem precisar dizer nada, ele me autorizou a ser como eu queria ser: artista, diverso e livre. De cabelo pra cima e de barba vermelha.

Quando conversarmos sobre meu avô, ele dizia de forma orgulhosa: Sabe o que o seu avô me deixou de herança? Algo muito mais importante e mais valioso que qualquer quantia de dinheiro: o caráter.

E foi isso que ele me deixou: um aprendizado fenomenal de ser quem você é, sem, no entanto, oprimir ninguém.

Quando ele partiu, fui à praia e joguei flores no mar em sua homenagem. Hoje, homenageio com esse texto e com essa canção.







Um comentário:

Adriana Amorim disse...

Amigo, que lindo texto. Estes nossos lindos pais que nos comovem e nos matam de saudade. Saudade boa, de quem amou e foi muito feliz. Quem sabe eles não batem um papo onde quer que estejam... Abraços, meu ruivo favorito.