O sol deu uma trégua à Cidade da Baía ia ia. O céu amanheceu cinza escuro quase desabando em nossas cabeças. Pé na rua e uma pá de lembranças tomaram minha cabeça. Dias cinzas, são dias essencialmente introspectivos. Dentro de mim irradiou-se alegria. Trazendo consigo a lembrança daquela que foi o primeiro amor adolescente do poeta récem descoberto Margô: flor que desabrochou no canteiro do edifício velho do subúrbio da cidade. Veio intensa como tudo que é bom e não se esvaiu com o tempo. Amadureceu com o girar da ampulheta e do fogo nasceu o amor. Amor de raízes fortes pé de cajá sertão recôncavo familiar.
Sem o calor, a cidade acordou sem pressa. A chuva fininha na janela e no corpo rememorando os dias de santa inês, sopa de letra e poesia, dos pés que encontravam-se embaraçados nas calçadas cabulescas, do frio do charco licor saboroso carne na panela, do forró arrochado na praça irajuba. Veio tudo, inundando a alma e emociando o poeta.
De repente do cinza fez-se o colorido
e da paixão adolescente,
o amor maduro.
De repente do peso da cidade
fez-se a poesia do cotidiano
e das palavras truncadas,
o instante mais insano.
De repente da vida que era monótona
fez-se um samba enredo
e da flor que desabrocha,
perfumou-se o mundo inteiro.
"De repente do riso fez-se o pranto"
e da saudade que era muita,
o mais bonito canto.
Um comentário:
a saudade mora aqui, beibe.
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