sábado, 11 de julho de 2009

Sete mil vezes eu tornaria a viver assim


; mais que uma década, são duas. mais que duas, são quase três.

me perdi me encontrei me refiz me colori e me apresentei sem maquiagem pro mundo pra platéia dos meninos da praça. pésdescalços pisando a terra molhada do quintal, flores entre os dedos, colares pra yemanjá água de cheiro perfumando a roupa branca e os joelhos dobrados em sinal de reverência. tornei-me água pura e deixei tocar as margens sujando-me misturando-me com o barro vermelho, a cor do coração no desenho da menina.
o batom na boca, borrado de tantos encontros deixa a barba por fazer com uma cor forte, mas vermelha do que antes. a boca macia do menino que vende picolé anuncia os sabores gelados que estão no isopor. a mão da baiana do acarajé ligeira e atenta mela a faca e o bolinho da pimenta que esquenta tudo: o calor, o verão e inverno. os dias se arrastam entre um ônibus que atrasa um pouquinho e a noite que parece enorme e tão iluminada.

aprendi a não cartilha da poesia e o não escrever com outros não poetas e não escritores. e assim os anos se tornaram dias mais festivos e os encontros mais que encontros, reencontros das palavras comigo mesmo: toda uma cidade pulsante e um mar gigante que me acolhe nos dias nublados.

eis a baía o reconcavo: a minha morada e o meu chegar.
salgado mar salgado quente verão quente doce beijo doce do menino velho menino do homem novo homem que me formei nas ladeiras nas praças nas escolas e no balanço do trem.

vai lá vai e diz pra todo mundo que o dia tá raiando e a festa vai começar.

são 27 dos quais 25 com o pé afundado na beira da praia e o corpo todo molhado de tanto chover tanto criar tanto mover tanto viver.
venham comer morar co-memorar a fundação dessa nova capital que passa por aqui e pousa aí nesses olhos nesses dedos nesse corpo inteiro.

yê yá odoyá.


foto: luciany aparecida

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