sexta-feira, 23 de abril de 2010

Téo e a gaivota

Há muito tempo que o mar não chega por essas bandas, nem os pássaros voam por esse céu. A cidade é cinza. Poesia concretista de um centenário arquiteto. Prédios suspensos, avenidas largas, eixões. Flor que rompe o asfalto. Flor cravada no cerrado.
Ele entrou no ônibus sem pressa, quase se confundindo com os outros passageiros - talvez mais um entre muitos milhões de passageiros dos ônibus que cruzam a cidade monumental. Téo, o seu nome, nos apresentamos entre um ponto e outro, entre uma informação e outra, entre uma sugestão e outra. - Vá lá no Conic, você vai gostar, ele disse. E eu fui, pra tomar uma cerveja gelada no centrão da cidade pulsante capital do país.

Corpo morgado, cabeça feita.

E logo na saída os olhos se encontraram novamente. Téo, camisa xadrez, cigarro na mão, fazendo fumaça na escapadinha que deu do trabalho. Eu queria dizer das gaivotas, das ondas dos mares que chegam lá na Baía. Das areias onde afundo meus pés. Ele queria falar dos espaços, das esquinas, das quadras. Eu queria convidá-lo pra um chopp. Ele queria que eu decorasse os números das ruas, os nomes dos bares de cerveja barata e farta. Entre um cigarro e outro, muitos quereres e um a gente se encontra por aí como despedida. Como se fosse fácil pra mim, homem estrangeiro, no meio daquela multidão achá-lo barbudo e livre novamente.

"Todos os encontros, todos os poemas, manda me avisar, manda me avisar"










Havia muito tempo que o mar não chegava por essas bandas, nem os pássaros voavam por esse céu.



Um comentário:

Santiago Régis disse...

agora os pássaros voaram...
muito legal.. adorei sua prosa-poesia
:D